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Por Madalena Sampaio
Construído na década de 70, o polémico “Prédio Coutinho”, em Viana do Castelo, é um dos mais votados no concurso “As Grandes Aberrações”. O autarca local, que é a favor da sua demolição, mas os moradores são de outra opinião.
Quando se chega a Viana do Castelo, é difícil não reparar no edifício de 13 andares instalado no centro histórico e que tem feito correr muita tinta. Cópias das notícias mais recentes sobre o caso estão até afixadas logo à entrada do prédio. Alegando que a construção desfigura a linha urbanística da cidade, a Câmara Municipal tem tentado demoli-lo, ao abrigo do Programa Polis (lançado em Junho de 2000), para construir, naquele lugar, o novo mercado municipal. Esta pretensão, já com sete anos, conta com a contestação de um grupo de moradores que decidiu avançar para os tribunais, estando o processo, neste momento, suspenso. “As questões estéticas não se podem sobrepor aos direitos das pessoas. Nós vivemos aqui legalmente, o prédio está devidamente licenciado”, sublinha o porta-voz da Comissão de Moradores, Abílio Teixeira.
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“Já estamos habituados a estar aqui”, explica Manuel Lamim, a viver há nove anos no último andar da polémica torre. “Ninguém gosta que mexam nos seus ninhos, nem os pássaros”, exemplifica. “Se há trinta e tal anos nunca embaraçou ninguém, por que é que agora está a embaraçar?”, questiona, por sua vez, a vizinha Diamantina Martins da Silva, 74 anos de idade. Proprietária de uma loja de artesanato e bordados regionais há mais de cinco décadas, lembra-se perfeitamente de quando o prédio foi construído, a poucos metros do seu estabelecimento comercial. “Acho que é estragar dinheiro”, diz, a propósito da demolição. “Eu sou contra deitá-lo abaixo, mas quem sou eu para o dizer?”, acrescenta.
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Terminado em 1975, o edifício recebeu os primeiros inquilinos no ano seguinte. Segundo as mesmas fontes, na altura foi considerado um “bom investimento”, razão pela qual muitas pessoas ali compraram apartamentos. Foi antes da Revolução de 25 de Abril que Fernando Coutinho, natural de Neves (Barroselas), decidiu investir as suas poupanças na construção do prédio, depois de mais de 50 anos de trabalho no Zaire. Aos 90 anos, o morador do 12º andar mostra-se arrependido por ter investido naquela obra, assegura a mulher, Rosa Amélia, 83 anos. Acrescenta que as notícias que têm vindo a público sobre o prédio só têm “tirado anos de vida” ao marido (indisposto no dia desta reportagem). E devido à sua idade avançada, nem faz parte da Comissão de Moradores.
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O presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Defensor Moura, concorda que se chame “aberração” ao imóvel. “Fico muito contente por haver uma unanimidade nacional em relação ao ‘Prédio Coutinho’ que é também maioritariamente recusado pelos vianenses”, declarou ao T&Q, citando um inquérito feito durante a elaboração do plano Polis e segundo o qual “dois terços da população indicava uma recusa total daquele prédio que foi construído ilegalmente nos anos de 1973 a 1975”.
Curiosamente, o autarca chegou a morar no polémico imóvel, na década de 80, “durante um ano e meio”, como confirmou o próprio. “Gostei de morar porque a construção protege bem quem lá mora, mas não me senti bem porque sentia que aquilo era recusado por toda a gente e, por isso, mudei-me logo que pude”, sublinhou o edil. “Em Março de 1974, havia instruções escritas do Ministério da Educação, que tutelava as áreas arqueológicas, mandando suspender a obra porque era ilegal. E foi o 25 de Abril, com a distracção das pessoas, que permitiu que aquilo fosse construído”, alegou ainda Defensor Moura. “Não estou a culpar as pessoas que lá moram, que compraram legitimamente os seus prédios”, esclareceu.
Sentado num dos vários bancos do jardim situado mesmo em frente ao “edifício da discórdia”, o vianense José da Costa, que diariamente vem de Portuzelo para ali passar as tardes, diz discordar da demolição, que a seu ver custa muito dinheiro. E conclui: “Não há prédio mais seguro do que este. Nem daqui a 500 anos vai abaixo!”